terça-feira, agosto 3

Estou com um nível de sono que me permite dissociar a alma da razão. O pensamento da emoção. E muitas vezes acho que só tenho vontade de escrever quando me encontro assim… E de dizer o que me vai na alma. Caso contrário, a razão tolda-me os dedos, e eles, bem-educados como foram, “calam-se”. Não sou artista. Os artistas produzem quando sentem dor. Dor emocional. Dor de alma. Penso eu. A dor deixa-me paralisada, estática, desgastada. Eu só preciso da ebriedade que a sonolência me traz.

Sinto uma vaga de serenidade a inundar-me, o período de calmia tem dado os seus resultados. Mesmo tumultuados por acontecimentos menos bons que deixaram o coração de alguns a palpitar quase fora das entranhas! Mas este período sobreviveu à tempestade. Por momentos senti-me tão frágil … angústia, dor e tristeza profunda. Mas a calmia trouxe-me sentimentos fantásticos de serem vividos. Sinto que ressuscitei. Estou profundamente romântica. Sem estar apaixonada. Romântica noutra ascensão da palavra. Fico feliz e sinto-me bem quando vejo coisas bonitas. Por muito pitorescas que sejam. Quando mergulho no mar. Os mergulhos no mar, no meu mar, que tenho usado e abusado, deixam-me revitalizada. Eu agora acredito que o meu mar e eu temos um affair. Porque mergulho e sinto energias que me percorrem e explodem, e me enchem de bem-estar. E a pequena serenata informal que ouvi… entre um casal, no meio da rua… que ele lhe cantava, quase sussurrava “pó de arroz…do teu arrozal”, e aquele sorriso que diz tanto como resposta e me deixa a acreditar no amor. E o Pat Metheney a tocar continuamente em qualquer aparelhagem perto de mim, nem eu consigo descrever o que cada nota musical significa para mim. Parece que cada instrumento diz coisas bonitas que me fazem sorrir. E fecho os olhos e imagino uma sala linda, toda de madeira, talvez em bétula, com um trio a tocar para mim.

Sou assim, lírica, e, por muito que amanhã acorde e me tenha passado este lirismo todo, não vou apagar nada do que escrevi. Porque é assim que eu sei que sinto as coisas. Eu sei que as sinto de forma intensa. E que não tenho que me lembrar, nesta embriaguez de sono, que a realidade continua, com altos e baixos. Momentos melhores e piores. Só sei que me vou deitar nos meus lençóis, num colchão maravilhoso, numas almofadas que me transmitem tanto, mas tanto conforto, e que dou tanto valor a esse momento, que me vou deixar adormecer, deixar a razão encontrar a emoção, deixar que elas conversem, para que vivam em paz uma com a outra…

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